Práticas da História Nº 10
Set 18, 2020 | 2020, Edições, Revista Práticas da História
Práticas da História – Journal on Theory, Historiography and Uses of the Past
- 2020
- Número 10
- ISSN: 2183-590X
- Número especial: Medievalismos luso-tropicais, orientais e pós-luso-tropicais: Encruzilhadas da definição da Idade Média portuguesa como passado do Brasil — Coordenado por Pedro Martins e Maria de Lurdes Rosa
Excerto do Editorial:
Desde o seu terceiro número (2016), a revista Práticas da História tem dedicado especial atenção à questão dos usos e representações da Idade Média – aquilo que vários académicos têm denominado como medievalismo. Autores prolíficos neste campo como Richard Utz, David Matthews, Valentin Groebner, Andrew B. R. Elliott e Tommaso di Carpegna Falconieri têm feito desta publicação um palco para o debate de várias temáticas relacionadas com o medievalismo, desde os usos do passado medieval pelos nacionalismos europeus à relevância das representações da Idade Média na chamada “cultura popular” contem-porânea. Contudo, o interesse pelo medievalismo não decorre apenas do âmbito temático desta publicação ou das preferências pessoais dos seus editores – ele tem, de facto, vindo a crescer. Desde a sua conceção teórica na década de 1970, os estudos sobre medievalismo têm levan-tado uma série de questões que se prendem não só com a própria pro-blematização da ideia de “Idade Média”, mas também com as diversas interpretações sobre este período histórico que têm sido feitas desde que ele foi formulado.
Uma das questões que menos atenção têm recebido, embora recentes trabalhos académicos venham a contrariar esta tendência, é a da relação do medievalismo com os contextos coloniais e pós-coloniais. Autores como John N. Ganim, Louise D’Arcens e Nadia Altschul têm indagado sobre esta relação, particularmente no que toca a temas como a proximidade entre medievalismo e “orientalismo” e a relevância do medievalismo em sociedades pós-coloniais como a Austrália ou os países latino-americanos. Esta reflexão tem mostrado, entre outros aspe-tos, a estreita imbricação entre a evocação da Idade Média e o avanço do imperialismo europeu, dobrado de valores alegadamente éticos, em campos tão pouco óbvios quanto a tal, como a conquista, a dominação, e a conversão das populações à religião cristã. Do ponto de vista das ciências sociais, a perspetiva medievalista trouxe também um enrique-cimento: os estudos pós-coloniais foram interrogados nos seus simplis-mos relativos à Idade Média; o “orientalismo” foi dotado de um passado mais antigo e uma história mais complexa; o estudo da ideia de raça ganhou em profundidade histórica. Por fim, o estudo da constituição académica e cultural da Idade Média enquanto momento fundador do passado europeu, para as nações oitocentistas, desenvolveu-se nos últimos anos numa não menos interessante direção – a forma como as colónias destas nações, e depois os países delas nascidos, inventaram também um passado medieval, através dele recusando as origens não europeias, pré-coloniais. Mesmo se nem sempre tal passado foi visto de forma positiva – como aconteceu em certos contextos brasileiros –, só muito recentemente (e parcialmente) ele começou a ser interrogado como (mais um) um passado imaginário, permitindo a integração dos povos nativos na história desses países.
Pedro Martins (IHC — NOVA FCSH) e Maria de Lurdes Rosa (IEM — NOVA FCSH)
Outras publicações
Pesquisa
Agenda
abril, 2024
Tipologia do Evento:
Todos
Todos
Apresentação
Ciclo
Colóquio
Conferência
Congresso
Curso
Debate
Encontro
Exposição
Inauguração
Jornadas
Lançamento
Mesa-redonda
Mostra
Open calls
Outros
Palestra
Roteiro
Seminário
Sessão de cinema
Simpósio
Workshop
- Event Name
seg
ter
qua
qui
sex
sab
dom
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
Detalhes do Evento
Primeiro de dois seminários de Colin Darch: será dedicado às lutas pela descolonização e reforma dos currículos de estudos africanos em África. Colocando Africanos e Afrodescendentes de Volta Dentro
Ver mais
Detalhes do Evento
Primeiro de dois seminários de Colin Darch: será dedicado às lutas pela descolonização e reforma dos currículos de estudos africanos em África.
Colocando Africanos e Afrodescendentes de Volta Dentro da História:
Experiências de Descolonização Curricular na Tanzânia e na África do Sul
O objectivo deste seminário é tentar analisar as experiências de duas lutas pela “descolonização” ou reforma dos currículos para ‘estudos africanos’ que aconteceram em instituições africanas de ensino superior. Analisaremos primeiro o caso da Universidade de Dar es Salaam nas décadas de 1960 e 1970, e segundo o caso da Universidade pós-apartheid da Cidade do Cabo (UCT), no final da década de 1990. A questão fundamental é, em que deve consistir um conteúdo programático adequado para o ensino das histórias africanas, e como deve ser ensinado? Construir um currículo que satisfaça os critérios pedagógicos, políticos e científicos que lhe serão exigidos, enfrenta uma dificuldade fundamental, nomeadamente o fato indiscutível de que a própria história africana, como disciplina acadêmica, ainda não foi totalmente descolonizada. A existência de múltiplos ‘Centros de Estudos Africanos’ no hemisfério norte é testemunho do papel predominante de revistas e programas de pesquisa norte- americanos e europeias na produção e também na curadoria de conhecimentos históricos sobre a África. Além disso, mesmo em países africanos, as lutas pela reforma do currículo não têm sido necessariamente tão bem sucedidas quanto se esperava – romper com as epistemologias eurocêntricas dominantes revelou-se uma tarefa difícil.
Sobre o orador:
Colin Darch — Historiador, sociólogo e documentalista académico sul-africano, reformado desde 2014, com vasta experiência de trabalho em universidades e centros de investigação: na Etiópia (1971-1974), Tanzânia (1975-1978), Moçambique (1979-1987), Zimbabué (1987-1991) e também no Brasil (1991-1992 e 2016). Formação pós-graduada como bibliotecário e documentalista; doutorado em história da Rússia pela Escola de Análise Social e Económica da Universidade de Bradford (Reino Unido). De 1997 a 2000, trabalhou como bibliotecário e documentalista no Consórcio de Bibliotecas do Cabo (CALICO, Cidade do Cabo); de 1992 a 1997, foi Professor da Universidade do Cabo Ocidental da Cidade do Cabo; de 2000 a 2013, foi Professor na Universidade do Cabo; de 2014 a 2023, foi Investigador Associado Honorário, da Unidade de Governança Democrática e Direitos, na Universidade da Cidade do Cabo. De 2017 a 2023 foi Investigador Honorário do Conselho de Pesquisa em Ciências Humanas, na Cidade do Cabo. Das obras mais recentes, destacam-se: “Voices of Liberation: Samora Machel. Leader and Liberator in Southern Africa“, editado com David Hedges (HSRC, 2024); “A Dictionary of Mozambican History and Society“, com Amélia Neves de Souto (HSRC, 2022); e “Nestor Makhno and Rural Anarchism in Ukraine, 1917-1921” (Pluto Press, 2020).
Tempo
(Sexta-feira) 5:30 pm - 7:00 pm
Localização
NOVA FCSH, Colégio Almada Negreiros, Sala 209
Campus de Campolide da NOVA — 1099-085 Lisboa
Organizador
Instituto de História Contemporânea — Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboacomunicacao.ihc@fcsh.unl.pt Avenida de Berna, 26C — 1069-061 Lisboa
Notícias
História oral, descolonização e revolução: três novos projectos IHC em torno do 25 de Abril
Abr 21, 2024
Luís Trindade, Zélia Pereira e José Neves tiveram três novos projectos financiados pela FCT
Cartazes no PREC na Biblioteca Nacional de Portugal
Abr 19, 2024
Paulo Catrica é o curador da exposição “A Revolução em Marcha”
Projecto IHC-APIGRAF culmina com a publicação de uma obra em dois volumes
Mar 27, 2024
Foi lançada a obra “170 Anos do Movimento Associativo Gráfico”.