“Isso já não existe nada, isso tudo já acabou”

Feb 19, 2021 | Chapters, Publications

“Isso já não existe nada, isso tudo já acabou” — Pensar a Reforma Agrária através das imagens de uma investigação em curso [“That no longer exists, it’s all over” — Thinking about the Agrarian Reform through the images of an ongoing investigation]

Excerpt:
Segundo o guia Michelin, a distância de Almada a Montemor-o-Novo é de 95 km, e demora cerca de 1 hora pela A2 e pela A6. Fruto de um diálogo construído ao longo do tempo, de um posicionamento comum, decidimos partir para um terreno para nós desconhecido com uma certeza partilhada: a nossa motivação não era a derrota, mas a esperança inerente ao processo daquela que terá sido a rutura revolucionária mais vincada nascida com o 25 de Abril de 1974, e onde a luta de classes – entre o proletariado rural e os grandes proprietários –, foi uma realidade. Será estranho dizer que procuramos a esperança num processo que sabemos a priori derrotado, mas de facto assim é. Porque antes da derrota, a exaltação esteve lá. A alegria esteve lá. Parafraseando a moda Alentejo é esperança, da autoria de José Borralho, a Reforma Agrária foi «o tempo mais ditoso, em que o futuro nasceu». Depois das primeiras viagens, mudámos de método de como nos embrenhamos na paisagem. Vamos, sempre que possível, por estradas nacionais e municipais. Às vezes, por caminhos de terra batida. A condução abrandou a velocidade, abrindo a possibilidade de encontros inesperados, de paragens não programadas.

About the book:
Nesta obra, vários autores foram convidados a olhar para momentos do tempo em que, como escreveu Galeano, chove de baixo para cima. A partir de várias formações disciplinares, os investigadores que responderam ao repto olham para o tempo comum, para o dia anterior, para as rotinas que corroem, mas que também permitem sobreviver, para os fluxos de gente que se movimenta à procura de uma vida melhor, para a conquista da cidade e do espaço de reconhecimento, para as margens da vida, com as pequenas histórias das personagens secundárias, dos sobreviventes, dos subversivos, dos indígenas, daqueles que em narrativa estranha são entendidos como falhados, incompletos, fadados ao fracasso, irrelevantes. Conjugar o tempo longo, através da memória, do arquivo, da fotografia e da literatura, é um exercício a partir de um dado presente, num tempo de pandemia em que a duração parece ter coagulado. Contudo, convém retirar o tempo forte do baú, e escapar das debilidades presentistas do fim da história, do presente contínuo em que tudo parece confundir-se. A tanto nos propusemos, com esta obra destinada a interrogar os momentos de aceleração da história, os que os precedem e o lastro num tempo longo.

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