PPESTS – História contemporânea das pragas agrícolas no Sul da Europa

Coordenadora:
Ana Isabel Queiroz

Financiamento:
Fundação para a Ciência e Tecnologia (IF/00222/2013/CP1166/CT0001)

Duração:
2014-2019

Resumo:
A investigação sobre a história dos organismos que se revelaram pragas e doenças das plantas desde o século XIX até à actualidade desenvolve-se no quadro disciplinar da História do Ambiente. Definida como o estudo de uma interacção entre os componentes humanos e não humanos do mundo natural, esta procura ferramentas analíticas que permitam identificar vínculos e relacionamentos dentro de uma situação ecológica e histórica em mudança (Cronon 1992). Para isso, exige-se um permanente diálogo entre o “biológico” e o estudo das relações humanas entre si e com a natureza. Requer por necessidade efectiva, mais do que por exercício académico, um conjunto de competências multidisciplinares que fazem parte das novas tendências historiográficas que visam (1) o cruzamento entre as humanidades, as ciências sociais e as ciências naturais e (2) novas fontes de dados, novas abordagens para questões e materiais mais antigos e discussões práticas de metodologia computacional e estatística, colheita de dados e procedimentos de amostragem.

Muitos insectos, fungos e vírus, provenientes de locais distantes, foram acidentalmente introduzidos sobretudo a partir do século XIX, usando bens e meios das actividades humanas, e provocaram prejuízos para a economia (e.g. a filoxera, Morrow 1973; Martins 1991; Gale 2011; Macedo 2011), o bem-estar humano e a biodiversidade. Por razões históricas, geográficas e ecológicas, o Sul da Europa foi um território particularmente vulnerável a invasões biológicas (Hughes 2005).

Na actualidade, apesar do conhecimento e da politica internacional existente sobre estas espécies invasoras, persistem situações críticas, cuja herança provem da acção humana em tempos mais ou menos remotos. O conhecimento do passado constitui, por isso, um elemento relevante para a identificação das origens e vectores de introdução (e suporte) das pragas e doenças das plantas, usos e formas de propagação, percepção dos impactos e medidas tomadas para a sua prevenção e controlo.

Uma lacuna existente nos estudos sobre pragas das plantas deve ser colmatada com a reconstituição histórica dos processos sociais associados à transferência e transporte dessas espécies em cada momento. Também uma compreensão das respostas das sociedades às invasões pode melhorar a comunicação sobre este tema e contribuir para redesenhar políticas de prevenção e controlo, e congregar os interessados em acções mais coordenadas e efectivas. Numa perspectiva pluralista (Della Porta e Keating 2008), analisam-se documentos oficiais, publicações científicas, relatórios técnicos, artigos de jornais, testemunhos pessoais e outras fontes complementares como mapas, propagandas, folhetos e obras literárias. Combinam-se as análises críticas e interpretação de diferentes materiais com abordagens digitais, nomeadamente a produção de mapas SIG em que se compõem informações geográficas, ecológicas e históricas.

 

Fotografia de Ana Mousaco Martins
Fotografia de Catarina Rodrigues
imagem de um avatar humano

Bibliografia citada:

  1. Cronon, W. “A Place for Stories: Nature, History, and Narrative,” Journal of American History 78 (1992): 1347-1376. [PDF]
  2. Della Porta, Donatella & Michael Keating (Eds.). Approaches and Methodologies in the Social Sciences: A Pluralist Perspective. Cambridge: Cambridge University Press, 2008. [link]
  3. Gale, George D. Dying on the Vine: How Phylloxera Transformed Wine. Berkeley e Los Angeles: University of California Press, 2011. [link]
  4. Hughes, J. Donald. Mediterranean: an Environmental History. Oxford: ABC-Clio, 2005. [link]
  5. Macedo, Marta. “Port Wine Landscape: Railroads, Phylloxera, and Agricultural Science,” Agricultural History 85 (2011): 157-173. [link]
  6. Martins, Conceição Andrade. “A filoxera na viticultura nacional,” Análise Social XXVI (1991): 653-688. [PDF]
  7. Morrow, Dwight W. “Phylloxera in Portugal,” Agricultural History 47 (1973): 235-247. [link]

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