![Capa do oitavo número da revista Práticas da História](https://ihc.fcsh.unl.pt/wp-content/uploads/2020/03/Praticas-Historia_N08_2019_600x900.png)
Práticas da História Nº 8
Set 23, 2019 | 2019, Edições, Revista Práticas da História
![Capa do oitavo número da revista Práticas da História](https://ihc.fcsh.unl.pt/wp-content/uploads/2020/03/Praticas-Historia_N08_2019_600x900.png)
Práticas da História – Journal on Theory, Historiography and Uses of the Past
- 2019
- Número 8
- ISSN: 2183-590X
- Dossier temático: Comemorações dos “descobrimentos portugueses” — Coordenado por Elisa Lopes da Silva e José Miguel Ferreira
Nota editorial:
Logo em 2016, pouco depois de editarmos o primeiro número desta revista, pensámos em fazer um dossier sobre o ciclo comemorativo dos “descobrimentos portugueses” ocorrido em finais do século XX. Muitos de nós, hoje historiadores, tinham sido educados durante esse longo ciclo comemorativo: materiais escolares e investigação académica, programas de televisão e produções artísticas, e mesmo a própria cidade de Lisboa, foram meios comemorativos em grande medida patrocinados pelo Estado português, nomeadamente através da Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses (em funções desde 1986 até 2002).
No início de 2018, vinte anos passados da Expo‘98 realizada na capital portuguesa, decidimos organizar um dossier em que se pudesse fazer um balanço crítico das políticas de comemoração dos ditos “descobrimentos portugueses”, e assim começar a entender que histórias foram então contadas. Queríamos perceber os vários discursos comemorativos, bem como os contra-discursos e as polémicas. Sobretudo, interessava-nos entender como é que os acontecimentos históricos alvo de iniciativas comemorativas – da viagem marítima chefiada por Vasco da Gama até à Índia à chegada da frota comandada por Pêro Alvares Cabral ao Brasil –, bem como as próprias comemorações nacionais portuguesas, foram interpretados noutros contextos nacionais, particular-mente nos países que tinham feito parte do império português. Procurámos, assim, deslocar a discussão historiográfica da antiga metrópole.
Como forma de organização do dossier, lançámos na Primavera de 2018 uma chamada para trabalhos para o seminário “Descobrimentos”: Políticas, Memória, Historiografia. Pela mesma altura, deu-se uma polémica sobre um hipotético ”Museu das Descobertas” que trouxe para o debate público a reflexão historiográfica sobre aquele período, começando pelo modo de o denominar. Discutir a narrativa da história nacional e o lugar da história da expansão marítima portuguesa nesta passou a estar na ordem do dia e esperamos que este nosso empreendimento possa de alguma forma contribuir para esse debate público e historiográfico. Permitirá, em primeiro lugar, desfazer de alguma forma o equívoco de que a história está feita de uma vez para sempre, salientando que ela é sempre refeita com os olhos de um presente cujos projetos comemorativos são a expressão mais visível. E escapar, portanto, à naturalidade de uma história que, uma vez contada, está sempre pronta a ser comemorada. Em segundo lugar, e talvez mais importante, ao deslocar o centro das comemorações dos “descobrimentos” da metrópole portuguesa e da narrativa da história nacional permite-se, assim, pensar e desnaturalizar quem é o “nós” que comemora hoje a história de Portugal, quando as heranças de um país imperial se refletem na população que o habita; quem é o “nós” que comemora, quando pensamos também nos herdeiros das populações das regiões americanas, africanas e asiáticas afectadas pela expansão portuguesa.
As comunicações que nos chegaram permitiram alargar o âmbito cronológico da nossa proposta e inserir as comemorações dos “descobrimentos portugueses” em finais do século XX numa categoria historiográfica de longa duração que, neste caso, fizemos remontar a 1898.
O dossier abre com um artigo da autoria de Marcos Cardão que percorre o programa televisivo “A Grande Aventura”, protagonizado pelo historiador e divulgador José Hermano Saraiva, para estudar a mediatização da temática dos “descobrimentos portugueses” no Portugal democrático e pós-colonial. Por aqui se entende como uma retórica realista, apoiada por dispositivos formais audiovisuais, construiu narrativas lineares centradas nos feitos de grandes homens que se cristalizaram em memória histórica e assim ajudaram a naturalizar a benignidade imperial. A problematização da representação visual dos “Descobrimentos” prossegue no texto seguinte, centrando-se agora na forma como a visualidade veiculou também contestações e alteridades desta noção historio-gráfica. Iara Schiavinatto, deslocalizando o olhar da metrópole colonial, aborda o tema da escravidão na formação da categoria de arte afro–brasileira, a partir de um ciclo de exposições apresentadas entre 1990 e 2000, em Portugal e no Brasil. Tal ciclo permitiu inscrever a escravidão numa política da memória e, segundo a autora, refutar visualmente as narrativas do luso-tropicalismo e da democracia racial.
O dossier conta ainda com dois textos que levam a comemoração dos descobrimentos a outras geografias e temporalidades. O texto de Stefan Halikowski-Smith e Benjamin Jennings permite olhar para a for-ma como os “descobrimentos portugueses” foram comemorados internacionalmente numa altura em que a descolonização portuguesa estava em debate nesta arena. Este terceiro texto do nosso dossier analisa, a partir de iniciativas militares, diplomáticas e académicas, em particular uma exposição no Museu Britânico a propósito do quinto centenário da morte do infante D. Henrique, em 1960, o modo como as comemorações dos “descobrimentos portugueses” promoveram formas de diplomacia cultural e trocas académicas anglo-portuguesas num contexto de progressiva deterioração da relação entre estes dois países. Recuando ainda no tempo das comemorações, o último artigo do dossier, de autoria de Jaime Rodrigues, detém-se no texto de uma conferência de história marítima proferida em 1898 pelo historiador e oficial de marinha Vicente de Almeida d’Eça, a propósito do quarto centenário da viagem da Gama. Este texto permite situar a construção de um discurso historiográfico sobre a figura do marinheiro na cultura histórica portuguesa, intimamente ligado à emergência de um ciclo comemorativo no final do século XIX.
Já fora do dossier, mas procurando contextualizar as comemorações dos “descobrimentos portugueses”, publicamos ainda um artigo que retoma o caminho da capital do império para pensar a memória colonial produzida pelo Estado português. Nuno Domingos analisou como Eusébio da Silva Ferreira, considerado o maior futebolista africano, nascido em Moçambique e celebrado em Portugal, se tornou um herói nacional neste país e conheceu, após a sua morte em 2014, um processo de patrimonialização que levou o seu corpo ao Panteão Nacional, em Lisboa.
De forma a multiplicar as narrativas historiográficas que desestabilizem os pressupostos que ergueram e suportaram as comemorações dos “descobrimentos portugueses”, publicamos ainda uma entrevista conduzida por Bárbara Direito e Elisa Lopes da Silva a uma pioneira da história de África em Portugal, Isabel Castro Henriques. A propósito da sua longa carreira, conversámos sobre as peripécias, desencontros e combates durante a institucionalização da disciplina de História de África numa academia ainda dominada pela história dos descobrimentos e da expansão. Para finalizar, publicamos um breve ensaio de Diogo Ramada Curto, que procura situar e definir o peso do tema da escravatura na parte da obra do historiador Vitorino Magalhães Godinho dedicada à expansão e à construção de um império colonial, encontrando formas mais complexas e integradoras de abordar os “descobrimentos portugueses”.
As palavras finais deste editorial foram reservadas para, de for-ma breve, homenagear António Manuel Hespanha, recentemente falecido. Membro do Conselho Científico da nossa revista e uma referência intelectual para todos nós, foi o historiador escolhido para apresentar o primeiro número da Práticas da História. O testemunho que publica-mos resulta do texto por si enviado à nossa revista por ocasião da sua participação no seminário que deu origem ao dossier deste número. O seu testemunho enquanto comissário da Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses (1997-2000) oferece-nos não só um balanço daquele ciclo comemorativo, mas uma oportunidade de abrir caminho a um debate sobre a possibilidade de realizar comemorações que se baseiem numa história crítica que questiona os fundamentos do seu fazer. Nas suas palavras:
“[A]o dedicar-se à descrição das múltiplas formas de «pulverização» da Verdade, da Moral, da Consciência, do Homem, o historiador está a descrever-se a si mesmo e ao seu discurso como feridos por esse mesmo estilhaçamento e, com isto, a recusar qualquer cientismo ou essencialismo e a pôr automaticamente em discussão tudo quanto diga. Para além de que, ao pôr a nu tal estilhaçamento, está a abrir espaço para novas alternativas de organização social, política e cultural”.
Elisa Lopes da Silva e José Ferreira (ICS — Universidade de Lisboa)
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![Illustrative banner for the lecture “Rice: ersatz, cultural artifact, object of knowledge, unruly crop”. With Lavinia Maddaluno, from Università Ca’ Foscari , IHC Visting Scholar 2024. The banner includes a photo of Lavinia Maddaluno.](https://ihc.fcsh.unl.pt/wp-content/uploads/2024/06/2024-07-16_Lavinia-Maddaluno_1200x500.jpg)
Detalhes do Evento
Conferência com a IHC Visiting Scholar Lavinia Maddaluno, sobre as respostas socioeconómicas, culturais, científicas, tecnológicas e médicas à expansão da cultura do arroz no Norte de
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Detalhes do Evento
Conferência com a IHC Visiting Scholar Lavinia Maddaluno, sobre as respostas socioeconómicas, culturais, científicas, tecnológicas e médicas à expansão da cultura do arroz no Norte de Itália.
Rice: ersatz, cultural artifact, object of knowledge, unruly crop
A dietary mainstay in non-European societies and a cornerstone of dishes like Northern Italian risotto, rice has diverse culinary significance. However, the timing of its introduction to Northern Italy remains unclear. Examining this event offers insights into the process of integrating new crops into both diet and cultural imagination. This talk is about the socio-economic, cultural, scientific, technological, and medical responses to the expansion of rice cultivation in northern Italy between the sixteenth and the eighteenth/early nineteenth centuries. Bringing together the history of knowledge and environmental history, in this talk I will reflect on how rice was appropriated by several actors, and on how these appropriations were intertwined with perceptions and constructions of the landscape and material environment. By interlacing narratives of rice cultivation and of the landscapes rice forms, alongside discussions of infrastructural development and knowledge systems, I will also delineate the progression of interactions between humans and their environments, as well as the evolution of water management practices, scientific advancements, medical understandings, and political-economic ideologies across different historical periods. Additionally, the talk will highlight how resources were conceptualized in the early modern period, reconnecting to contemporary debates on the Anthropocene and on the agency of non-humans.
About IHC’s 2024 Visiting Scholar:
Lavinia Maddaluno is Assistant Professor in early modern history at the Department of Humanities at Ca’ Foscari, Venice, working on David Gentilcore’s ERC project The Water Cultures of Italy 1500-1900. She is a historian of science interested in exploring the nexus between humans, nature and economy in early modern Europe. Lavinia has just completed her first monograph Science and political Economy in Enlightenment Milan (1760-1805), forthcoming with the Voltaire Foundation in autumn 2024. She is currently editing a book on rice in the Mediterranean with Rachele Scuro and a special issue on Water Knowledge with Giacomo Savani and Davide Martino. Lavinia has held multiple fellowships since the end of her PhD (Cambridge UK, 2018), from a Rome Fellowship at the British School at Rome, to a Max Weber Fellowship at the EUI and a joint Warburg/I Tatti Fellowship in the History of Science. More recently, she has been Fellow at the Fondation Maison des Sciences de l’Homme and the Fondazione Einaudi, working on a new project on rice-related knowledge networks between France and Italy in the Enlightenment.
Attendance is free.
Tempo
(Terça-feira) 10:30 am - 12:30 pm
Organizador
Instituto de História Contemporânea — Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboacomunicacao.ihc@fcsh.unl.pt Avenida de Berna, 26C — 1069-061 Lisboa
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