Amílcar Cabral, da História Política às Políticas da Memória
Coordenador:
Rui Lopes
Financiamento:
Fundação para a Ciência e Tecnologia (PTDC/EPH-HIS/6964/2014)
Duração:
2016 – 2019
Resumo:
Este projecto propõe-se a analisar a articulação entre as ideias de Amílcar Cabral e a sua recepção. No decurso das guerras coloniais que levaram ao fim do Império Português, o líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) adquiriu grande projecção internacional e, desde então, o seu trajecto tem sido objecto de múltiplos usos memorialistas. A notoriedade mundial da sua figura não tem comparação com a de qualquer outra personagem política do mundo português do século XX. No entanto, a atenção dedicada a Cabral pela universidade portuguesa foi até há pouco tempo quase nula, situação tanto mais inusitada na medida em que uma parte importante do espólio de Cabral foi entretanto reunida em Portugal, no Arquivo da Fundação Mário Soares, parceira deste projecto. Sendo que mesmo a expansão dos estudos sobre o Império Português1 pouco tem beneficiado a investigação sobre o passado anticolonial, com a perspectiva africana remetida principalmente para a área
literária2, este projecto visa uma compreensão mais multifacetada das ramificações do processo que conduziu à descolonização portuguesa. Contrariando a secundarização do anti-colonialismo na agenda historiográfica portuguesa, o projecto tem ainda como objectivo contribuir para um processo internacional de renovação da história dos sujeitos políticos3. Esta dinâmica passa não só por conferir visibilidade a sujeitos por regra ausentes da narrativa historiográfica, mas também pelo desenvolvimento de estratégias de pesquisa susceptíveis de superar os limites que resultam da cristalização de oposições como individual/colectivo, nacional/internacional ou práticas/representações4.
O estudo incidirá assim em três vertentes complementares:
- Uma vertente examinará a contribuição discursiva de Cabral para a constituição das populações da Guiné-Bissau e de Cabo Verde em povos dotados de uma subjectividade política própria. Estudaremos os discursos dirigidos por Cabral a essas populações no período da luta de libertação, conjugando a análise textual do uso que Cabral faz de conceitos como «povo»,
«nação», «cultura» e «terra» (conceitos cuja genealogia intersecta a formação agronómica e política de Cabral) com a análise da performatividade em relação aos contextos específicos de cada audiência. A par do estudo dos registos gravados e transcritos destes discursos, recorreremos a história oral para avaliar a sua recepção em diferentes esferas sociais e
culturais. Esta vertente do projecto permitirá compreender a interdependência entre os processos de formação do sujeito colectivo e do sujeito individual. - Outra vertente focar-se-á no processo de constituição de Cabral como individualidade política de projecção internacional. Examinaremos a correspondência trocada entre Cabral e interlocutores internacionais, incluindo outros movimentos anti-coloniais e a oposição anti-fascista portuguesa, bem como jornalistas, intelectuais e diplomatas dos dois lados da Guerra Fria. A análise de conteúdo dessa correspondência será conjugada com a elaboração de uma cartografia dos contactos de Cabral e do PAIGC no período entre 1960 (ano em que se intensificam os preparativos para o início da guerra na Guiné-Bissau) e o ano da sua morte (1973). Este mapeamento permitirá analisar a construção da rede diplomática, informativa e militante tecida por Cabral e pelo PAIGC, assegurando uma perspectiva mais informada sobre a internacionalidade dos processos de formação de sujeitos políticos nacionais.
- A terceira vertente analisará múltiplas práticas de representação que pretenderam objectivar a vida e obra de Cabral, desde biografias académicas a filmes e documentários. Estes materiais foram produzidos tanto no quadro do processo de circulação internacional de imagens e discursos militantes5, como no âmbito da construção dos nacionalismos guineense e cabo-verdeano pós-independência6 ou no quadro de desenvolvimento global dos estudos pós-coloniais7. Com recurso à análise metabiográfica, procuramos desta forma melhor compreender as relações que se estabelecem entre práticas políticas e práticas representativas do político, tanto no tempo de vida de Cabral como nos trabalhos de memória que desde então vêm sendo realizados em várias partes do mundo.
No âmbito das actividades do projecto, Branwen Gruffydd Jones foi investigadora visitante no IHC entre 18 de Janeiro e 18 de Março de 2019.
Bibliografia citada:
- Jerónimo, Miguel Bandeira (Ed.). O Império Colonial em Questão (séculos XIX-XX): poderes, saberes e instituições. Lisboa: Edições 70, 2012.
- Ribeiro, Margarida Calafate & Odete Costa Semedo (Orgs.). Literaturas da Guiné-Bissau: cantando os escritos da história. Porto: Afrontamento, 2011. [link]
- Mignolo, Walter D.. Local Histories/Global Designs: Coloniality, Subaltern Knowledges, and Border Thinking. Princeton: Princeton University Press, 2000. [link] Burbank, Jane & Frederick Cooper. Empires in World History, Power and the Politics of Difference. Princeton: Princeton University Press, 2010. [link]
- Guha, Ranajit. History at the Limit of World-History. Nova Iorque: Columbia University Press, 2003. [link]
- Eshun, Kodwo & Ros Gray. ”The militant image: a ciné-geography,” Third Text 25 (2011): 1-12. [link]
- Morier-Genoud, Eric (Ed.). Sure Road? Nationalisms in Angola, Guinea-Bissau and Mozambique. Leiden: Brill, 2012. [link]
- Rabaka, Reiland. Concepts of Cabralism: Amilcar Cabral and Africana Critical Theory. Lanham: Lexington Books, 2014. [link]
Outros Projectos
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Coordenação: Maria Fernanda Rollo
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Coordenação: Maria Fernanda Rollo e Paula Meireles
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Coordenação: Irene Flunser Pimentel
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Coordenação: Victor Pereira
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Coordenação: Maria Fernanda Rollo
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Coordenação: Luís Mendonça de Carvalho
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Coordenação: coord
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Coordenação: Maria Fernanda Rollo
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Coordenação: Maria Fernanda Rollo, José Maria Brandão de Brito e Alice Cunha
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Coordenação: Jorge Custódio
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Coordenação: Rui Lopes
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Coordenação: Rita Luís
Pesquisa
Agenda
novembro , 2025
Tipologia do Evento:
Todos
Todos
Apresentação
Ciclo
Colóquio
Conferência
Congresso
Curso
Debate
Encontro
Exposição
Inauguração
Jornadas
Lançamento
Mesa-redonda
Mostra
Open calls
Outros
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Roteiro
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Detalhes do Evento
Nona edição do congresso que tem como objectivo a valorização da importância da história local na historiografia contemporânea. IX Congresso de História Local: Conceitos, Práticas e Desafios na
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Detalhes do Evento
Nona edição do congresso que tem como objectivo a valorização da importância da história local na historiografia contemporânea.
IX Congresso de História Local:
Conceitos, Práticas e Desafios na Contemporaneidade
O IX Congresso de História Local aspira acompanhar e estimular a renovação historiográfica em curso; assim, dá continuidade aos propósitos e dinâmicas iniciados em 2017, proporcionando um espaço de divulgação, de partilha e de problematização para todos/as quantos se dedicam a este ramo da historiografia, em diálogo permanente com a historiografia nacional e internacional. Tal como nas edições anteriores, o encontro pretende continuar a ser um contexto privilegiado para a reflexão sobre o conceito, as metodologias e as práticas da história local; por extensão, constitui-se como uma oportunidade para troca de experiências.
Do mesmo modo, os princípios subjacentes à organização do congresso fomentam a intervenção de estudantes de último ano de licenciatura e de primeiro de mestrado, com o intuito de obterem as primeiras experiências no meio académico.
>> Programa do congresso (PDF) <<
Chamada para comunicações
Convidam-se os interessados/as a apresentarem propostas de comunicação no domínio da história local, subordinadas à evolução analítica de comunidades e enquadradas pelas especificidades metodológicas e epistemológicas que caracterizam este campo de estudos. As propostas de comunicação sobre a história local na contemporaneidade podem ser concebidas em torno dos seguintes eixos temáticos, sem exclusão de outros tópicos:
- Transformações sociais e culturais;
- Imprensa local;
- Dinâmicas laborais e conflituosidade social;
- Reflexões sobre a teoria e metodologias da história local;
- A importância da história local no ensino secundário e superior;
- Temas e trabalhos subordinados à história de uma região;
- História e comunidade(s);
- Elite(s) e personalidades;
- Municípios e Poder Local;
- Instituições e associações locais;
- Organização, resistência e violência política na história local;
- A história das mulheres em contexto local;
- Territórios e património biocultural.
O encontro de 2025 será acolhido pela Câmara Municipal de Alpiarça. Seguindo o modelo dos eventos anteriores, esta edição contará com um painel exclusivamente dedicado à história deste município e do Ribatejo. Nesse sentido, convidam-se os historiadores/as, professores/as, investigadores/as e demais/as estudiosos da região a submeterem comunicações dedicadas à história de Alpiarça.
Envio de propostas
As propostas não deverão exceder os 3500 caracteres e contemplar o título do trabalho e uma biografia resumida do autor/a (máximo 750 caracteres).
As comunicações aceites resultarão em apresentações de 15 minutos.
Línguas de trabalho: Português e Inglês (não haverá interpretação simultânea).
O painel júnior é exclusivo para alunos/as de último ano de licenciatura e primeiro ano de mestrado; neste caso, a apresentação das propostas de comunicação deverá observar o mesmo procedimento, mas serão avaliadas separadamente.
Todas as propostas deverão ser submetidas através do formulário disponível 🔗neste link.
Inscrições
A inscrição no congresso é individual e gratuita e deverá ser feita através do formulário disponível 🔗neste link até ao dia 6 de Novembro de 2025.
Calendarização
Submissão de propostas: 7 Setembro 2025
Notificação de aceitação de propostas: 15 Outubro 2025
Divulgação do programa: 20 Outubro 2025
Prazo para inscrições: 6 Novembro 2025
Congresso: 7 – 8 Novembro 2025
Contacto: congressohistorialocal@gmail.com
Comissão Organizadora
Catarina Pimentel Neto (CEF — NOVA FCSH)
Catarina Veiga dos Santos (CEF — NOVA FCSH)
Diogo Ferreira (CEF — NOVA FCSH)
Eunice Relvas (CEF — NOVA FCSH / GEO-CML)
Guilherme Sequeira (CEF — NOVA FCSH)
Inês José ( IHC — NOVA FCSH / IN2PAST / CEF — NOVA FCSH)
João Francisco Pereira (CEF — NOVA FCSH / CEHR-UCP)
João Pedro Santos (IHC – NOVA FCSH / IN2PAST)
Liliana Caldeira (CEF — NOVA FCSH / Câmara Municipal de Lagoa)
Maria Fernanda Rollo (CEF — NOVA FCSH)
Maria Miguel Fresco (CEF — NOVA FCSH)
Mariana Reis de Castro (IHC – NOVA FCSH / IN2PAST / CEF — NOVA FCSH)
Pedro Serra (CEF — NOVA FCSH)
Comissão Científica
Ana Cardoso Matos (CIDEHUS — Universidade de Évora)
Ana Paula Pires (CEF — NOVA FCSH / Universidade Açores)
António José Queiroz (CEFi —UCP / CEPESE)
Diogo Ferreira (CEF — NOVA FCSH)
Eunice Relvas (CEF — NOVA FCSH / GEO-CML)
João Miguel Henriques (CEF — NOVA FCSH / CMC)
Jorge Fernandes Alves (FLUP)
Luís Alberto Alves (CITCEM — FLUP)
Manuela Tavares Ribeiro (FLUC)
Maria Conceição Meireles (FLUP)
Maria Fátima Nunes (IHC — Universidade de Évora / IN2PAST)
Maria Fernanda Rollo (CEF — NOVA FCSH)
Margarida Sobral Neto (FLUC)
Nuno Pousinho (IHC — NOVA FCSH / IN2PAST)
Paulo Jorge Fernandes (IHC – NOVA FCSH / IN2PAST)
Paulo Miguel Rodrigues (CEF — NOVA FCSH / Universidade da Madeira)
Pedro Serra (CEF — NOVA FCSH)
Sérgio Rezendes (CEF — NOVA FCSH)
Teresa Nunes (CEF — NOVA FCSH / FLUL)
Tempo
7 (Sexta-feira) 12:00 am - 8 (Sábado) 5:30 pm
Organizador
Várias instituições
Detalhes do Evento
Henrique Entratice faz a defesa pública da Tese de Doutoramento "Sobreviver em Confinamento Museológico: Ritxòkós Ixỹbiòwa, Deiscência dos Arquivos, e Retomadas na Terra Indígena Xambioá". Provas de Doutoramento em Antropologia na
Detalhes do Evento
Henrique Entratice faz a defesa pública da Tese de Doutoramento “Sobreviver em Confinamento Museológico: Ritxòkós Ixỹbiòwa, Deiscência dos Arquivos, e Retomadas na Terra Indígena Xambioá”.
Provas de Doutoramento em Antropologia na Faculdade de Ciências Sociais a Humanas da Universidade NOVA de Lisboa.
Tempo
(Sexta-feira) 2:30 pm - 5:00 pm
Organizador
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboageral@fcsh.unl.pt Avenida de Berna, 26C — 1069-061 Lisboa

Detalhes do Evento
Palestra de Claudio Ribeiro sobre o projecto MPO e o uso dos princípios FAIR e criação de um Fair Digital Object para o dataset do projecto.
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Detalhes do Evento
Palestra de Claudio Ribeiro sobre o projecto MPO e o uso dos princípios FAIR e criação de um Fair Digital Object para o dataset do projecto.
Compartilhamento de dados de pesquisa:
uso do Fair Digital Object (FDO) para noticias em periódicos do século XIX
Claudio Ribeiro (UniRio)
A gestão de dados de investigação possibilita uma melhor partilha dos resultados dos projectos. Esta foi a abordagem seguida pelo projecto MPO (Música em Periódicos Oitocentistas), que levou à discussão sobre o contexto dos princípios FAIR e à criação de um FDO para o dataset escolhido no projecto de investigação. Nesta palestra, será feita uma exposição sobre o projecto e traremos para debate: a motivação, os principais desafios, uma visão do método e os resultados, além das lições aprendidas.
Sobre o orador:
Claudio Ribeiro é graduado em Engenharia com extensão em Análise de Sistemas. Doutor e mestre em Ciência da Informação, além de MBA em Gestão do Conhecimento. Bolseiro de Produtividade do CNPq e Cientista do Nosso Estado/FAPERJ. Em 2021, realizou um estágio pós-doutoral no grupo SCS (Semantics and Cybersecurity Service) da Electrical Engineering, Mathematics and Computer Science da University of Twente/ The Netherlands, explorando representações semânticas e princípios FAIR para GLAM (Galleries, Libraries, Archives and Museums). Líder do grupo de investigação OpenAIDoc/CNPq, qua trata a Ciência Aberta, Administração e Disseminação de Informação, Documentos, Registos e Recursos de Informação, além de esforços para a organização de informação na WEB. É Professor Associado da UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – ministrando aulas na graduação em Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia e Administração Pública, além de ser docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Biblioteconomia. Tem experiência nas áreas de Ciência da Computação e Ciência da Informação, atuando desde 1986 tanto em trabalhos técnicos quanto em atividades como professor universitário.
🔗 GRATUITO mas com INSCRIÇÃO OBRIGATÓRIA
Tempo
(Sexta-feira) 3:00 pm - 4:30 pm
Organizador
Instituto de História Contemporânea — Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboacomunicacao.ihc@fcsh.unl.pt Avenida de Berna, 26C — 1069-061 Lisboa
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