
O IHC noticia o falecimento do sociólogo Fernando Ampudia de Haro. À família e amigos mais próximos, queremos enviar uma mensagem de carinho e força nesta hora tão difícil. O desaparecimento do Fernando, por mais que não seja totalmente inesperado, deixa-nos tristes e revoltados. Guardaremos com afecto a memória do seu trato amigo. O Fernando nasceu em 1975, tinha muita vida pela frente e foi um colega exemplar. O raio de interesses do Fernando Ampudia de Haro era vastíssimo. As suas investigações resultaram em trabalhos acutilantes e sensíveis. E desbravaram temas praticamente inexplorados pelas Ciências Sociais. A Sociologia e a História, mas também a Economia, perdem um investigador singular.
O livro que, em 2020, publicou na Imprensa de História Contemporânea é a este respeito muito sugestivo. Intitulou-o “O processo civilizacional da tourada. Guerreiros, cortesãos, profissionais …e bárbaros?“. Superando os limites epocais que a periodização historiográfica tantas vezes impõe, o Fernando encontrou na tourada um tema que lhe permitiu renovar o seu olhar sociológico e historiográfico, devedor dos contributos de, entre outros, Norbert Elias. Em contra-partida, a investigação desenvolvida pelo Fernando oferece-nos um grande conhecimento histórico e muitas questões para reflexão cívica em torno do tema. Li-a, de fio a pavio, no dia em que ele me enviou o manuscrito. Podem ler o livro aqui.
A tese de doutoramento do Fernando, essa, foi realizada em Madrid, na Universidade Complutense. Foi premiada e esteve na origem do livro “Las bridas de la conducta: una aproximación al proceso civilizatorio español” (Madrid, Centro de Investigaciones Sociológicas / Siglo XXI Editores, 2007). Entre 2006 e 2012, o Fernando foi investigador de pós-doutoramento no IHC, onde desenvolveu o projeto “O homem civilizado em Espanha e Portugal: Modelos de comportamento e afectividade nas ditaduras de Franco e Salazar”. O seu principal interlocutor no IHC foi o nosso colega António Reis, por quem o Fernando tinha respeito e admiração.
O último artigo publicado do Fernando Ampudia de Haro data deste ano. Versa em torno dos repertórios culturais sobre o amor. Nos últimos anos, à investigação de temas e objectos queridos à tradição eliasiana, o Fernando juntou um grande interesse pelo estudo do neoliberalismo. Escreveu, com Sofia Gaspar, sobre as políticas fiscais para não-residentes (Fernando Ampudia de Haro & Sofia Gaspar, “Racionalidade política neoliberal e regime fiscal: o caso dos Residentes Não Habituais em Portugal“. Revista Crítica de Ciências Sociais 125 (2021): 5-28). Levou ao estudo da crítica do regime académico de publicação vigente (por exemplo, Fernando Ampudia de Haro. “O impacto de (não) ter impacto: para uma sociologia críticas das publicações científicas“. Revista Crítica de Ciências Sociais 113 (2017): 83-106). Co-editou, com José Nuno Matos, “Os sujeitos do neoliberalismo” (Lisboa, Tigre de Papel / Outro Modo, 2021).
Algumas das fontes e assuntos que perseguiu permearam as suas investigações sobre o período das ditaduras ibéricas e sobre o mundo liberal de hoje. Foi o caso da literatura de auto-ajuda. A actividade de investigação e de publicação do Fernando fez-se a par com o ensino e a aprendizagem. Foi professor em Salamanca e no ISCSP, mas foi na Universidade Europeia que exerceu funções de Professor Auxiliar ao longo da última década. De caminho, encontrou tempo e vontade para realizar, no Iscte-IUL, uma dissertação intitulada “A Economia Social no contexto das políticas de austeridade”, no âmbito do mestrado em Economia Social e Solidária. Nesta instituição, foi investigador do CIES entre 2008 e 2020. Voltaria então ao IHC, aceitando o desafio que um dia lhe fiz para que se nos juntasse, porque precisávamos dele para renovar a nossa investigação no domínio da História Económica, da História Social e da Sociologia Histórica. O seu desaparecimento, tão precoce, é uma grande injustiça.
Pela Direção do IHC,
José Neves
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