maio, 2024
Detalhes do Evento
Colóquio que procura reflectir a pluralidade de abordagens ao 25 de Abril de 1974, enriquecendo a compreensão histórica do acontecimento nas suas diferentes vertentes temáticas, escalas e cronologias.
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Detalhes do Evento
Colóquio que procura reflectir a pluralidade de abordagens ao 25 de Abril de 1974, enriquecendo a compreensão histórica do acontecimento nas suas diferentes vertentes temáticas, escalas e cronologias.
Il était une fois la révolution… portugaise:
à l’occasion du 50e anniversaire de la Révolution des œillets (25 avril 1974)
Na noite de 24 para 25 de Abril de 1974, os “Capitães de Abril” desencadearam o seu golpe de estado em nome de um programa simples, o dos “três D”: descolonizar, democratizar e desenvolver. Acima de tudo, tratava-se pôr fim a quase catorze anos de guerra colonial, uma guerra que não podia ser ganha militarmente, que isolou Portugal na cena internacional, que absorvia quase metade do orçamento do Estado e que levava os jovens ao exílio para fugir à guerra. O antigo regime caiu no dia seguinte, com júbilo popular. Enquanto os militares exigiam calma e, se possível, que as pessoas ficassem em casa, as enormes manifestações de 1 de Maio de 1974 mostraram que o golpe de Estado se tinha transformado numa revolução, inicialmente sobre temas democráticos mas rapidamente sobre temas sociais, e até socialistas.
A universidade de Rennes 2, com o apoio do Instituto Camões e da Cátedra Mário Soares, seu antigo professor e seu primeiro doutor honoris causa, não poderiam deixar de comemorar este grande acontecimento. Associando-se à revista Lusotopie e a outros parceiros institucionais, ela acolherá um colóquio internacional sobre o 25 de abril, a decorrer entre 30 de Maio e 1 de Junho de 2024.
Palestrante convidada: Maria Inácia Rezola (Comissão Executiva Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril / ESCS — IPL)
Chamada para comunicações
O “25 de abril” é um acontecimento histórico com múltiplos sentidos, susceptível de uma pluralidade de abordagens. O colóquio procurará reflectir essa pluralidade. Ele aceitará comunicações que permitam enriquecer a compreensão histórica do acontecimento nas suas diferentes vertentes temáticas (políticas, sociais, culturais, económicas), escalas e até cronologias. Quatro enfoques específicos serão no entanto privilegiados:
1 – A DIMENSÃO INTERNACIONAL DA REVOLUÇÃO DOS CRAVOS. Ela foi-o na sua própria génese, pois resultou do produto combinado da revolução anticolonial africana e do crescente cansaço dos portugueses relativamente a um regime que cada vez tinha menos sentido para as gerações mais jovens. Mas para além do facto de ter tido um enorme impacto em muitos países e de jovens ocidentais terem ido para Lisboa em “turismo revolucionário” para “ver a revolução”, o 25 de Abril também teve impacto nas comunidades e nos estados que de uma forma ou de outra estavam ligados à historia portuguesa. Entre muitas outras, as seguintes questões podem ser colocadas: quais foram as repercussões e os efeitos da Revolução dos Cravos nas comunidades portuguesas que emigraram para a Europa Ocidental (França, Inglaterra, Alemanha Ocidental, Suíça, etc.), Canadá, Estados Unidos, Brasil, Venezuela, etc.? Como reagiram os “países de Leste” no inicio do processo? Como é que os países que tinham entrado em conflito com Portugal (como a Índia em 1961 durante a captura de Goa), ou que apoiaram a resistência portuguesa anti-fascista e anti-colonialista (como Marrocos e a Argélia) viveram o surto e o desenvolvimento desta revolução? Como é que os países que apoiaram o esforço colonial português reagiram ao golpe (África do Sul do Apartheid, Rodésia do Sul, ou, de uma forma mais complexa, o Brasil dos militares, ou a Espanha do franquismo tardio)? E como é que reagiram aqueles que insistiram nas negociações (como o Senegal de Senghor)?
2 – A DIMENSÃO PORTUGUESA DA REVOLUÇÃO DOS CRAVOS. Pensar no 25 de Abril como um facto nacional, como uma nação que fala a si própria, é tão central que, na maioria das vezes, acaba por ser omitido. A nação, em grande parte identificada com o discurso salazarista sobre “uma nação, do Minho a Timor” e a exaltação da “portugalidade”, teve má imprensa na primavera de 1974, desacreditada por quase meio século de ditadura e pelas guerras coloniais. A Europa apareceu então rapidamente como um substituto conveniente, em torno do slogan “O império está morto, viva a Europa!” Cinquenta anos depois, é possível questionar as interações entre o 25 de Abril e a nação portuguesa, e fazê-lo em particular a partir de um ângulo político e ideológico, como sinónimo do fim de “uma certa ideia de Portugal” e como “momento histórico em que o povo se tornou o Povo”, para retomar a definição de nação proposta por Pascal Ory (Qu’est-ce qu’une nation?, Paris, Gallimard, 2020). Será que o “25 de abril” mudou profundamente a imagem que os portugueses – pelo menos as novas gerações – têm da sua própria nação? Será que a Europa apagou uma certa nostalgia do Império? Que desafios é que esta, com a sua vasta dimensão e população, trouxe a um país que voltou a ser o “pequeno retângulo metropolitano”? Será que a extraordinária modernização do país enfraqueceu o apego à pátria?
3 – UM PROCESSO COM MÚLTIPLOS AGENTES. Cerca de dez anos depois do 25 de Abril começaram a surgir novas perspectivas que contribuíram para modificar o prisma tradicional de um derrube da ditadura exclusivamente feito “de cima para baixo”, pelas elites, fossem elas militares ou políticas. Vários autores começaram a olhar para a revolução portuguesa do ponto de vista das forças sociais envolvidas, sobretudo nos conflitos agrários e urbanos. Tal contribuiu para colocar o caso português no centro do debate internacional sobre os processos de democratização. Começaram a multiplicar-se os estudos sobre o papel das diversas oposições em corroer a solidez do Estado Novo na sua fase final. Começou a olhar-se para o “Processo revolucionário em curso” (PREC) como parte de um ciclo de protesto mais amplo, que atravessou a universidade, as fábricas, os campos, as artes, contribuindo para criar o ambiente social, cultural e político na
base do qual o MFA e o seu programa surgiram. De que forma estas dinâmicas influenciaram a memória, identidade, organização e o repertório de acção dos movimentos sociais portugueses nos anos a seguir, assim como a sua relação com outros actores políticos e sociais (institucionais e não)? Qual foi o impacto dos movimentos sociais do PREC na construção da memória colectiva em Portugal (sobre o passado colonial, a ditadura e a própria revolução)? Que legado deixaram estes movimentos na organização e percepção do espaço em Portugal, por exemplo nas dimensões do direito à cidade e à habitação, do planeamento, dos direitos ambientais e à terra?
4 – O “25 DE ABRIL”, ENTRE MEMÓRIA E HISTÓRIA. O carácter politicamente marcado da memória do “25 de Abril” é um dos aspectos da dimensão nacional da revolução referida no ponto 2. Com efeito, um olhar exterior, menos atento à história portuguesa recente, não se dá conta das clivagens políticas e ideológicas que a memória dos acontecimentos de 1974 e 1975 alimentou em Portugal até aos dias de hoje, prolongando no tempo as clivagens de então. O facto de a maioria dos cidadãos portugueses de hoje terem nascido depois de 1974 não as apaga necessariamente, pois a memória da revolução, seja ela de que sinal for, é objeto de transmissão entre gerações. A forma como a data foi comemorada de há 50 anos para cá, acompanhando as cores políticas dos governos e as aspirações sociais de cada período, também permite ilustrar o fenómeno. Por outro lado, a questão, metodológica e ética, das relações entre história e memória coloca-se aqui de forma clara. Haverá sinais de que, cinquenta anos depois, o “25 de Abril” começa enfim a entrar na história? Ou, pelo contrário, será que a questão está mal colocada, e que os historiadores começaram, neste como noutros temas, a estar mais atentos às solicitações sociais legítimas de outras formas de lidar com o passado? E, se sim, qual é o impacto do questionamento pós-colonial actual sobre a memória do evento e sobre a maneira de escrever a sua história?
As propostas, que podem ser apresentadas individualmente ou sob a forma de um atelier (máximo de cinco intervenientes), devem ter entre 3 000 e 3 500 caracteres (incluindo espaços) e ser redigidas numa das três línguas da conferência (francês, português ou inglês). Devem ser enviadas antes de 15 de Dezembro de 2023 para o endereço electrónico da conferência: colloque25avrilrennes@gmail.com.
As respostas às propostas serão dadas até 31 de Janeiro de 2024. Os candidatos cujas propostas forem aceites serão convidados a procurar financiamento junto das suas instituições de origem para as despesas de viagem e alojamento em Rennes. Os organizadores do Colóquio poderão cobrir uma parte destas despesas, dentro dos limites do orçamento disponível.
>> 📎 Descarregar chamada para comunicações (PDF) <<
Comissão Organizadora
André Belo, Université de Rennes 2, França
Michel Cahen, CNRS/Sciences Po Bordeaux, França
Irène Dos Santos, URMIS-CNRS, Paris, França, editora-chefe da revista Lusotopie
George Gomes, Université de Rennes 2, França
Yves Léonard, Centre d’histoire de Sciences Po Paris, França
Pedro Aires Oliveira, IHC — NOVA FCSH / IN2PAST, Portugal
Comissão Científica
Guya Accornero, ISCTE – IUL, Lisboa, Portugal
André Belo, Université de Rennes 2, França
Marc Bergère, Université de Rennes 2, França
Michel Cahen, CNRS/Sciences Po Bordeaux, França
Irène Dos Santos, URMIS-CNRS, Partis, França, editora-chefe da revista Lusotopie
George Gomes, Université de Rennes 2, França
Yves Léonard, Centre d’histoire de Sciences Po Paris, França
Maria José Lobo Antunes, ICS – Universidade de Lisboa, Portugal
Rita Luís, IHC — NOVA FCSH / IN2PAST, Portugal,
Paulo de Medeiros, English and Comparative Literary Studies, Warwick University, Reino Unido
Pedro Aires Oliveira, IHC — NOVA FCSH / IN2PAST, Portugal
Victor Pereira, IHC — NOVA FCSH / IN2PAST, Portugal,
Maria Inácia Rezola, Comissária Executiva para as Comemorações do 25 de Abril, IHC — NOVA FCSH / IN2PAST, Portugal
Philip Rothwell, European Humanities Research Centre, Oxford University, Reino Unido
Luís Trindade, IHC — NOVA FCSH / IN2PAST, Portugal
Tempo
Maio 29 (Quarta-feira) 5:00 pm - Junho 1 (Sábado) 1:30 pm
Organizador
Várias instituições