Xurxo Ayán lidera projecto em busca de António Ribeiro, português anti-fascista vítima da Guerra Civil Espanhola
Abr 24, 2023 | Notícias
![Fotografia do monumento aos trabalhadores dos caminhos de ferro vítimas do fascismo em Camponbecerros Portocamba, no concelho de Castrelo do Val, Galiza. Na placa de granito, colocada numa rocha num caminho da montanha, lê-se “En memoria dos carrilamos portugueses veciños do concelho de Castrelo do Val asasinados por forzas fascistas o 20 de agosto de 1936. Dom Antonio Ribeiro. Dom José María Sena. Dom Ramiro Mateus. O esquecimento leva a que feitos como estes se poidan repetir. Castrelo do Val. 23 de xuño de 2012. A. C. Os Carrilanos”](https://ihc.fcsh.unl.pt/wp-content/uploads/2023/04/2023-04-24_Projecto-RAILWAY_1200x630.jpg)
Iniciou-se hoje o projecto RAILWAY 1936: Arqueologia no caminho de ferro, dirigido pelo arqueólogo Xurxo Ayán, que tem como principal objectivo a localização da sepultura e exumação do trabalhador dos caminhos de ferro António Ribeiro, assassinado pelo regime franquista em 1936 em Castrelo do Val (Galiza).
Não se sabe de que região portuguesa vinha, mas António Ribeiro chegou a Espanha, como muitos outros operários portugueses, para trabalhar na construção dos caminhos de ferro em curso na Galiza. Estava filiado no Sindicato de Oficios Varios da Confederação Nacional do Trabalho de Campobecerros, era colaborador da Solidaridad Obrera e militante da Federação Anarquista Ibérica da Corunha. Após o golpe de estado franquista, os sublevados iniciaram uma feroz repressão na zona onde se estava a construir os caminhos de ferro, reprimindo os trabalhadores anti-fascistas. António Ribeiro foi assassinado numa dessas operações, a 20 de Agosto de 1936, e condenado à revelia, em 27 de Novembro do mesmo ano, por ter participado na resistência ao golpe de estado. A sua sepultura estará localizada na Comunidad de Montes de Portocamba.
É precisamente nessa localidade que a equipa multidisciplinar reunida por Xurxo Ayán vai, ao longo desta semana, centrar os seus trabalhos, com prospeções de cobertura total, magnéticas e com detector de metais, e a abertura de sondas manuais nos locais onde se detectem restos materiais ou sinais de remoção de terras. Na sua globalidade, o projecto também prevê a realização de actividades de socialização do património e de promoção da memória histórica em Campobecerros e Castrelo do Val durante a realização dos trabalhos arqueológicos, bem como a recolha de memórias orais relativas à actividade operária e política dos trabalhadores que construíram a linha de caminhos de ferro naquele período histórico. Além disso, será organizado um ciclo de conferências, umas jornadas de portas abertas para divulgação dos resultados provisórios e Xosé Lois Santiago realizará um documentário.
A origem deste projecto remonta às cerimónias de homenagem à aldeia portuguesa de Cambedo da Raia — onde, em Dezembro de 1946, o exército português e a Guardia Civil espanhola derrotaram um grupo de guerrilheiros anti-franquistas galegos. Em Dezembro de 2021, Xurxo Ayán e Paula Godinho coordenaram essa comemoração, que culminou com uma visita a Castrelo do Val, onde a população local havia erigido um monumento aos trabalhadores portugueses assassinados em Campobecerros por falangistas no Verão de 1936. Nessa ocasião, o Município de Castrelo do Val demonstrou interesse em tentar a exumação dos trabalhadores dos caminhos de ferro assassinados. Após vários encontros e visitas de campo a Campobecerros, Xurxo Ayán apresentou o projecto à Câmara Municipal de Castrelo do Val, que aceitou financiá-lo, em conjunto com o IHC. Dele fazem parte investigadores e investigadoras de universidades portuguesas e espanholas, com ampla experiência em exumações, tanto em Espanha como noutros contextos internacionais.
A equipa do projecto é constituída por Xurxo Ayán (IHC — NOVA FCSH), Carlos Otero Vilariño (INCIPIT — CSIC), Luis Antonio Ruiz Casero (Universidad Complutense de Madrid), David Casado Neira (Universidade de Vigo), Mario Bueno Aguado (Universidad Carlos III de Madrid), Sonia García Rodríguez (INCIPIT — CSIC), Márcia Lika Hattori (Universidade do Minho / INCIPIT — CSIC), Candela Martínez Barrio (Cabildo de Gran Canaria) e Manuel Leiras Camino (Universidade de Santiago de Compostela).
Imagem: Monumento aos trabalhadores dos caminhos de ferro vítimas do fascismo em Campobecerros-Portocamba (Castrelo do Val, Galiza) (Crédito: Xurxo Ayán)
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