outubro, 2024
Detalhes do Evento
Apresentação de resultados do projecto FIREUSES — Paisagens de Fogo, uma investigação colectiva sobre a história dos incêndios rurais em Portugal. As paisagens de fogo
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Apresentação de resultados do projecto FIREUSES — Paisagens de Fogo, uma investigação colectiva sobre a história dos incêndios rurais em Portugal.
As paisagens de fogo de Monchique:
História e memória dos incêndios nas serras do sul
A equipa do projeto de investigação Paisagens de Fogo convida a participar num colóquio de um dia dedicado à partilha de perspectivas acerca da relação entre pessoas, fogo e território. Depois da recolha de memórias e experiências de encontros com o fogo nas zonas serranas de Monchique e Silves e de nos termos debruçado sobre registos documentais, colectados em arquivos históricos locais e nacionais, é chegado o momento de discutir os resultados da pesquisa com quem nos acolheu. Além da equipa do projecto, participam neste encontro investigadores do projeto BRIDGE – Unir a ciência e as comunidades locais para a redução do risco de incêndios florestais – e responsáveis pela gestão dos incêndios rurais das câmaras municipais de Monchique e Silves, bem como do ICNF Algarve.
O enfoque histórico na investigação sobre o fogo permitiu aceder a um conjunto de relações entre a história rural da serra de Monchique, a construção de políticas nacionais e o desenvolvimento das ciências territoriais, como a silvicultura e a ecologia, que estão largamente ausentes dos debates contemporâneos sobre o “problema dos incêndios”. Desde logo, as décadas 1960 e 1970 emergiram como último momento de um espaço rural percorrido anualmente por incontáveis fogos de pequena dimensão, realizados no período de Verão e inseridos nos quotidianos agropastoris e domésticos, e no qual rareavam incêndios de maiores dimensões.
Numa escala temporal alargada, a história do fogo em Monchique contribui para uma história política e científica do fogo de recorte nacional: nas últimas décadas do século XIX, as serras portuguesas passaram a ser imaginadas como paisagens sem fogo. A exclusão das práticas de fogo rurais foi apoiado por um consenso científico crescente, que as inscreviam numa narrativa multi-secular de destruição ambiental e num discurso agrícola e florestal que condenava os cultivos itinerantes de cereais como “primitivos”. O aparato científico e administrativo que passou a governar e interpretar os sistemas agrícolas de montanha passou a conceber o fogo como “inimigo” da floresta, relegando para a invisibilidade e ilegalidade os saberes agrícolas de co-existência com o fogo.
Em grande medida, porém, as tentativas de controlo e restrição do fogo falharam. Os incêndios rurais tornaram-se cada vez mais comuns e destrutivos, devastando um território a cada ano mais inflamável devido a uma combinação de êxodo rural, abandono agrícola, expansão da vegetação natural, monoculturas de eucaliptos e pinheiros, e alterações climáticas. Nos meses de Verão, outrora dedicados às roças e queimas extensivas, os avisos insistentes sobre o risco de incêndio dominam as emissões de rádio e televisão. Numa irónica volta do destino, a recuperação das “perniciosas tradições” do fogo, como o fogo controlado e o contra-fogo, são agora apresentadas pelos especialistas como uma saída para este enigma ardente.
>> Programa do colóquio (PDF) <<
Entrada gratuita sujeita a inscrição através do email fireuses@fcsh.unl.pt ou do telefone 282910200. Transporte a partir de Marmelete e Monchique organizado pela Câmara Municipal de Monchique.
Tempo
(Sábado) 10:00 am - 4:00 pm
Organizador
Várias instituições