fevereiro, 2026

Detalhes do Evento
Encontro que procura estimular a partilha, convocando a voz das trabalhadoras e a força do arquivo como uma ferramenta viva de conhecimento, aprendizagem e transformação. Prazo: 10 Novembro 2025
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Detalhes do Evento
Encontro que procura estimular a partilha, convocando a voz das trabalhadoras e a força do arquivo como uma ferramenta viva de conhecimento, aprendizagem e transformação. Prazo: 10 Novembro 2025
Nós Estamos Contigo na Casa
Trabalho doméstico e acção coletiva — Arquivos, memórias, testemunhos
A constituição de uma economia global dos cuidados e dos serviços domésticos tornou-se, nas últimas décadas, um dos elementos centrais para compreender as transformações do trabalho nas sociedades capitalistas (Ehrenreich e Hochschild, 2002; Lutz, 2011). Este processo de “divisão internacional do trabalho reprodutivo” (Parreñas, 2001; Anderson, 2007) é exemplo da forma como desigualdades históricas se reconfiguraram e aprofundaram na transição dos contextos coloniais para a pós-colonialidade (Cox, 2006; Sartri, 2008). A ausência de políticas públicas de cuidado, combinada com a desregulação do mercado de trabalho e a escassez de mão de obra no sector, produziu um cenário de precarização laboral e social em que género, etnicidade e classe se entrecruzam. A preferência dos empregadores por trabalhadoras migrantes — muitas vezes sem autorização de residência — tem permitido a formação de uma nova classe servil, caracterizada por vínculos frágeis, quase ausência de direitos e baixas remunerações (Giordano, 2022).
Este quadro de vulnerabilidade estrutural alimenta a ideia de que o trabalho doméstico e de cuidados seria marcado por invisibilidade social e por uma suposta incapacidade de mobilização colectiva. Contudo, esta leitura tende a obscurecer a longa história de resistências e de experiências organizativas protagonizadas por estas trabalhadoras. Desde o século XIX, múltiplos exemplos de reivindicações laborais e de luta contra práticas opressivas demonstram que o sector, longe de ser inorganizado, tem sido palco de diversas formas de mobilização por melhores condições de trabalho (Anderson, 2001; Boris e Nadassen, 2008; Gutiérrez-Rodríguez, 2010). Recuperar e reflectir sobre essa trajectória histórica não é apenas um exercício de memória, mas um passo necessário para reinscrever o trabalho doméstico e de cuidados na história global das lutas laborais, desafiando narrativas que procuram naturalizar a sua subalternidade.
O título deste encontro é retirado de uma carta enviada por uma trabalhadora doméstica ao seu sindicato, guardada num arquivo, sem data, sem remetente ou destinatário, apenas com uma anotação, escrita à mão: arquivo. É nela que se lê: “E nunca penses que estás só, nós estamos contigo na casa onde exercemos a profissão”.
Tomámos como inspiração para este encontro este pequeno excerto, parte de um texto que faz a descrição, na primeira pessoa, da migração precoce para a cidade de Lisboa, para servir em casa alheia, aos sete anos.
O trabalho sobre arquivos de organizações de trabalhadoras e a ampliação da atenção sobre sindicalismo à realidade do serviço doméstico tem merecido crescente atenção nos últimos anos, um pouco por todo o mundo, também sob o impulso de um renovado interesse pela intersecção, na esfera do trabalho doméstico remunerado, das desigualdades de género, classe e migrações. Neste encontro, que terá lugar nos dias 6 e 7 de Fevereiro de 2026 em Lisboa, abrimos um espaço para, a partir do projeto A Voz das Trabalhadoras: Os Arquivos do Sindicato do Serviço Doméstico (1974-1992), reunir contributos que, vindos de diferentes geografias e campos de prática, se cruzem em torno do trabalho doméstico, de cuidado e de limpeza — e da sua articulação com formas de ação colectiva, cooperativismo, sindicalismo, e construção de memória.
Chamada para comunicações
Assim, tendo como principal ponto de partida a imersão em arquivos do sindicalismo, de experiências de auto-gestão e de cooperativismo no serviço doméstico, convidamos à submissão de propostas que se debrucem sobre os diversos repertórios de organização e luta adoptados por trabalhadoras e trabalhadores deste sector/actividade, que incidam sobre história oral ou pesquisas em arquivos, na narração de experiências e auto-representações das condições e contextos laborais.
Procurando estabelecer um diálogo transnacional e interdisciplinar destas experiências, aceitam-se contribuições nos seguintes eixos:
- Práticas de arquivo de/ sobre trabalho doméstico;
- Fluxos migratórios, cidadania, género e racialização no trabalho doméstico, de limpeza e de cuidados;
- Acção coletiva, cooperativismo e sindicalismo de trabalho doméstico.
Este encontro procura estimular a presença e partilha entre activistas, artistas, investigadoras/es, trabalhadoras/es e sindicatos — convocando a voz das trabalhadoras e a força do arquivo como uma ferramenta viva de conhecimento, aprendizagem e transformação.
Assim, convidamos ao envio de propostas oriundas de diferentes campos disciplinares e com diferentes abordagens metodológicas, saudando o cruzamento de perspectivas. O encontro acolhe propostas vindas de:
- artistas (performance, teatro, audiovisual);
- investigadores/as, arquivistas, ativistas e estudantes;
- trabalhadoras do sector doméstico e de cuidados (colectivos, cooperativas, sindicatos).
Envio de pequenos resumos (máx. 500 palavras), com uma breve biografia, até ao dia 10 de Novembro de 2025.
Submissões para encontro.trabalhodomestico2026@gmail.com.
Idiomas aceites: Português, espanhol e inglês
>> Descarregar a chamada para trabalhos (PDF) <<
Locais do encontro: NOVA FCSH e Centro Cultural Cabo Verde
Organização: CICS.NOVA e IHC
Comissão organizadora
Ackssana Silva
Elsa Nogueira
Inês Brasão
José Soeiro
Mafalda Araújo
Nuno Ferreira Dias
Tempo
fevereiro 6 (Sexta-feira) - 7 (Sábado)
Localização
Lisboa
Organizador
Instituto de História Contemporânea e CICS.NOVA — Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa
