Cláudia Ninhos é a curadora do novo Museu Aristides de Sousa Mendes

Jul 18, 2024 | Destaque, Notícias

Cláudia Ninhos foi a responsável pela investigação científica, selecção dos conteúdos e escrita dos textos do novo Museu Aristides de Sousa Mendes. O museu vai ser inaugurado a 19 de Julho pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, assinalando o aniversário do antigo cônsul de Portugal em Bordéus.

Localizado na casa que outrora foi a residência de família de Aristides de Sousa Mendes, a Casa do Passal (Cabanas de Viriato, Carregal do Sal), o projecto deste museu demorou vários anos a concretizar-se, pelo que “existe uma enorme expectativa em torno da exposição permanente”, como nos explica Cláudia Ninhos, para quem “a disseminação da história fora dos ‘muros da academia’ tem sido sempre uma trave mestra” do trabalho como investigadora. Este foi um novo desafio para Cláudia, a tal ponto que decidiu fazer uma pós-graduação em museologia: “transformar a informação contida na documentação do Ministério dos Negócios Estrangeiros e de muitos outros arquivos, a documentação quase inédita do arquivo da família Sousa Mendes, em informação sintetizada, facilmente compreensível por qualquer visitante, foi um enorme desafio, pois exige conhecimentos que nós, historiadores, não temos”.

Fotografia de Cláudia Ninhos durante uma entrevista na SIC Notícias

Cláudia Ninhos

Cláudia Ninhos considera que a história que este museu conta é “poderosa e significativa” e que “tem enorme potencial transformador”. Explica-nos que “num mundo em que a indiferença era dominante, Aristides, assim como os outros ‘salvadores’ demonstraram que desobedecer era possível, ainda que tivesse consequências. Contar estas histórias poderá ser uma fonte de inspiração para o visitante e despertar nele formas de activismo individuais.” Este museu vai ainda permitir fazer uma ponte entre o passado e presente: “num mundo como o nosso, marcado por profundas transformações políticas e sociais, pela polarização política e social, o passado parece querer tornar-se novamente presente perante o crescimento da extrema-direita, dos discursos de ódio e da xenofobia. Esta mudança exige que o museu, enquanto instituição cívica, assuma um papel ainda mais activo na defesa da igualdade, da inclusão e da justiça social.” A curadora reconhece que “não há exposições neutras e explorar questões relacionadas com as nossas sociedades contemporâneas — como, por exemplo, a questão dos refugiados, dos Direitos Humanos, do dever de desobediência civil — coloca-nos desafios.” Um desses desafios é “não cair em falsas equiparações entre o passado e o presente”. O objectivo da narrativa do museu é, então, recorrer ao poder das histórias que conta “para fomentar junto do visitante uma mudança positiva na sua consciência, afirmando-se como espaço de defesa activa dos Direitos Humanos.”

A exposição permanente do museu está focada na acção humanitária protagonizada pelo cônsul durante a Segunda Guerra Mundial, permitindo compreender a Casa do Passal enquanto “lugar de memória” e como espaço de construção social e política do seu protagonista. Está constituída por diversas secções que contam a história da casa, da família Sousa Mendes, da carreira consular de Aristides, o contexto histórico da época, os principais acontecimentos políticos até ao ‘êxodo’ de 1940, o processo, a pena e a reabilitação da memória do cônsul, bem como as histórias de outros portugueses que, durante a Segunda Guerra Mundial, também salvaram judeus. Das muitas fotografias e objectos que integram a exposição, destacam-se as condecorações recebidas por Aristides nos postos consulares que ocupou, uma caneta parker com monograma A.S.M., o relógio de bolso do refugiado Simon Van Den Berg (usado durante o êxodo de 1940), a agenda de Denise Blum (uma adolescente que vivia em Paris quando a Wehrmacht invadiu a França) e a medalha de ‘Justo entre as Nações’ (concedida pelo Yad Vashem em 1966). A museografia é da autoria da Cariátides e o design da United by.

 

Imagem: Município de Carregal do Sal

 

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