outubro, 2024

29outTodo o dia30Espaços de ConfinamentoColóquio Internacional(Todo o dia) Museu do Aljube, Rua Augusto Rosa, 42 — 1100-091 LisboaTipologia do Evento:Colóquio,Open calls

Aspecto do Campo de Concentração do Tarrafal fotografado em 2015. A cada lado da foto, observam-se dois longos edifícios de um só piso, com janelas gradeadas, separados por uma estrada de pedra com algumas árvores. A estrada termina com um pequeno edifício, com ar mais renovado, também térreo, cuja fachada tem duas janelas e uma porta

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Detalhes do Evento

Colóquio que pretende discutir a forma campo numa perspetiva histórica, assim como as diferentes práticas de encarceramento colonial. Prazo: 10 Agosto

 

Espaços de Confinamento:
Memórias da Repressão e Colonialidade

 

No dia 1 de Maio comemorou-se o 50º aniversário (1974-2024) da libertação dos presos que estavam encarcerados no Campo de Concentração do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde. Esse Campo foi fundado pela ditadura salazarista em 1936, sob a designação eufemística de Colónia Penal de Cabo Verde, com o propósito de reprimir e encarcerar os opositores do salazarismo. De 1936 a 1954, foram confinados no Tarrafal centenas de portugueses condenados como presos políticos; e, de 1961 a 1974, centenas de militantes anti-colonialistas de Angola, Guiné e Cabo Verde que lutavam pela independência das colónias portuguesas em África. Torturas, doenças, mortes, censura, trabalho forçado e outras práticas repressivas caraterizaram o regime de confinamento executado na prisão do Tarrafal (Barros 2009). Deste ponto de vista, a história dessa prisão deve ser interpretada como parte integrante das políticas de confinamento colonial e das práticas de violência política que regimes ditatoriais (dentre eles o Estado Novo) executaram em diferentes partes do globo ao longo do século XX. Ao mesmo tempo, o confinamento colonial não pode ser desligado da história global da expansão imperial europeia e dos colonialismos (Coates 2001; Bernault 2003; Vansina 2003 ; Havik, Janeiro, Oliveira & Pimentel 2021; Bruce-Lockhart 2022; Angelo 2023).

A detenção (como prática de controlo) e a segregação (como mecanismo de gerar diferenças) foram exercidas em espaços pensados e instituídos como ‘excepção’ (Agamben 1996) e como instrumentos para gerir pessoas consideradas como ‘surplus’ ou perigosas para a ordem dominante. O conceito forma campo sugerido por Federico Rahola num ensaio de 2007 implica a reinterpretação dos confinamentos coloniais e pós-coloniais, tanto pela sua perspectiva de duração como pela adaptação contemporânea das práticas de detenção, inclusive para aqueles que Didier Fassin designa de ‘nómadas transnacionais precários – refugiados ou migrantes, requerentes de asilo ou estrangeiros em situação irregular’ (Fassin 2021). Os espaços e as culturas de confinamento (Dikötter & Brown 2007; Morelle, Le Marcis & Hornberger 2021) revelam muito sobre as geografias de exclusão e de desigualdades (Gilmore 2023).

Tomando como evocação memorial o 88º aniversário da abertura da prisão colonial do Tarrafal em Cabo Verde (29 de Outubro 1936 – 29 de Outubro 2024), este Colóquio Internacional visa ampliar o debate sobre antigas e novas práticas de confinamento, nas suas múltiplas declinações e modalidades. Pretende-se discutir a forma campo, por um lado, numa perspetiva histórica, assim como as diferentes práticas de encarceramento colonial. Por outro, é intenção deste Colóquio reflectir, de forma alargada e transdisciplinar, sobre os espaços, as memórias, as narrativas e as experiências de detenção, e a forma como os seus legados marcam a genealogia de práticas contemporâneas de confinamento. Neste quadro, apelamos ao envio de propostas de comunicação que dialogam com esses e outros temas conexos:

  • Experiências de confinamento colonial
  • Memórias e narrativas de detenção
  • Prisão e repressão políticas
  • Violências coloniais e pós-coloniais na forma campo
  • Artes, violências, narrativas e representações do confinamento
  • Prisões, estratégias de resistências e redes transnacionais de luta
  • Arquipélagos do confinamento: prisões políticas, colónias penais, campos de trabalho forçado, campos de refugiados
  • Espaços e formas de confinamento – perspetivas comparadas
  • Políticas de memória, reapropriações, modalidades de reutilização dos espaços de confinamento colonial
  • Espaços racializados e compartimentação da diferença

 

As propostas de comunicação (título, autor, afiliação institucional e um resumo de 200 palavras, no máximo) devem ser enviadas até 10 de Agosto de 2024 para (liviaapa@gmail.com e vbarros@fcsh.unl.pt). As propostas aceites serão comunicadas, no máximo, até 1 de Setembro de 2024. Os resumos e as apresentações podem ser em português, inglês, francês e espanhol.

O Colóquio terá lugar nos dia 29 e 30 de Outubro de 2024 no Museu do Aljube, em Lisboa, Portugal.

 

>> Descarregar a chamada para comunicações (PDF) <<

 

 

Comissão organizadora

 

Livia Apa (CEsac-Unior – Centro Studi sull’Africa Contemporanea, Università di Napoli)
Víctor Barros (IHC — NOVA FCSH / IN2PAST)

 

 

Comissão científica

 

Anaïs Angelo (University of Vienna)
Aurora Almada e Santos (IHC — NOVA FCSH / IN2PAST)
Camille Evrard (CNRS–IMAF & Université de Toulouse Jean Jaurès)
Catarina Madeira Santos (IMAF & École des Hautes Études en Sciences Sociales)
Federico Rahola (Università degli Studi di Genova)
Florence Bernault (SciencesPo – Centre for History)
Francesco Correale (CNRS–UMR 7324 CITERES – Université de Tours)
Laura Routley (Newcastle University)
Maria Conceição Neto (Universidade Agostinho Neto)
Miguel Mellino (Università degli Studi di Napoli « L’Orientale »)
Pedro Aires Oliveira (IHC — NOVA FCSH / IN2PAST)
Romain Tiquet (CNRS & Centre Marc Bloch)

 

Foto: Campo de Concentração do Tarrafal, 2015 (Carlos Oliveira Reis / CC BY-NC-SA 2.0)

 

Tempo

outubro 29 (Terça-feira) - 30 (Quarta-feira)

Localização

Museu do Aljube

Rua Augusto Rosa, 42 — 1100-091 Lisboa

Organizador

Várias instituições

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