dezembro, 2019

16dez5:30 pm7:30 pmA Economia do ImaterialCiclo Diálogos Luso-Brasileiros5:30 pm - 7:30 pm Biblioteca Nacional de Portugal, Campo Grande, 83 — 1749-081 LisboaTipologia do Evento:Ciclo

Imagem abstracta alusiva ao ciclo

Ver mais

Detalhes do Evento

Sexta sessão do ciclo Diálogos Luso-Brasileiros, dedicado à economia política. Com Geraldo Augusto Pinto e José Castro Caldas.

 

Diálogos Luso-Brasileiros VI

A Economia do Imaterial

 

O trabalho invisível na economia imaterial: novas formas de produção do valor e de reprodução da força de trabalho no capitalismo contemporâneo
Geraldo Augusto Pinto (UTFPR)

O capitalismo entrou em uma nova fase desde a década de 1970. Em meio a um conjunto de transformações que marcaram o fim do chamado período “áureo” vigente desde o pós-1945, difundiram-se novas formas de organização do trabalho, num esforço de superação do taylorismo-fordismo, que, como projeto societário, se baseava em dois eixos: de um lado, em uma organização do trabalho hierarquizada e pautada na prescrição de atividades fragmentadas e especializadas; de outro, em um ordenamento político e jurídico que concebia o assalariamento como uma relação contratual entre capital e trabalho, com direitos e deveres lastreados em acordos coletivos e leis nacionais.
O questionamento desse arranjo abriu espaço a experiências de organização do trabalho ditas flexíveis, pautadas na redução das hierarquias e na promoção da desespecialização dos trabalhadores/as, a fim de que passassem a assumir novas e mais complexas tarefas e responsabilidades. Amparando tal processo, as contratualidades tradicionais entre capital e trabalho passaram a ser contestadas, vindo a alastrar-se, desde então, as subcontratações (como a terceirização), as contratações temporárias e por tempo limitado de trabalho, os contratos em que os/as trabalhadores/as figuram como autônomos (ou empresários de si mesmos), bem como modalidades de produção e comércio que vicejam num limbo entre o assalariamento mascarado e as atividades autônomas liberais, como a plataforma Uber.
Como parte desse processo, tem-se constatado a ampliação dos empregos e investimentos para ramos que não são, por exemplo, a produção de alimentos, automóveis ou petróleo, mas que aceleram a circulação desses produtos e geram outros mais, como os serviços financeiros, ou os serviços de informação e comunicação, dentre outras atividades ditas imateriais (ainda que dependentes, nas cadeias de valor, de formas de trabalho materiais).
Nesse contexto, novas qualificações têm sido exigidas, envolvendo desde conhecimentos e práticas fornecidos pela educação formal aos/às trabalhadores/as, até novos modos de conduta por parte destes/as que garantem eficiência em situações em que trabalham em equipes (não raro espacialmente dispersas), focados em projetos e avaliados por metas.
Cabe, pois, indagarmos: aonde e como as características comportamentais dessa força de trabalho são formadas? Quais são os espaços e as condições nas quais se produzem (e se reproduzem) nesses/as trabalhadores/as, além dos saberes-fazeres técnicos formais, a tão esperada predisposição para colaborarem com as gerências, a autonomia no planeamento de suas próprias qualificações e carreiras, e, sobretudo, a aceitação e a confiança de que tudo em sua vida profissional deve depender apenas deles/as mesmos/as?

 

A expansão da crematística e a compressão do espaço e do tempo
José Castro Caldas (CES — Universidade de Coimbra)

Contra um pano de fundo, tantas vezes romantizado, de uma vida produtiva marcada pelo ciclo das estações e os caprichos da natureza, em comunidades locais apenas ligadas por deslocações perigosas, o capitalismo e a tecnologia, ou a ‘modernidade’, apresentaram-se, pelo menos desde a Revolução Industrial como engenhos compressores do tempo e do espaço.
Famosas são as passagens de Marx e Engels no Manifesto Comunista sobre a dissolução de tudo o que é sólido e a expansão planetária do comércio, ou as de Keynes sobre a liquidez induzida nas decisões de investimento pela expansão dos mercados financeiros. O capital desde os primórdios quis-se livre, descomprometido e sem raízes – líquido – e foi forjando as instituições e os artefactos apropriados a essa finalidade.
A transformação do mundo decorrente da expansão do capital não foi, e possivelmente nunca será, cabalmente realizada. O que vivemos hoje, como vivemos em épocas anteriores, mais não é do que uma aceleração desse processo; um impulso mais como sempre apoiado em recursos tecnológicos alguns deles inimagináveis nos primórdios do capitalismo.
No tempo da finança e da revolução digital a crematística rompe com mais facilidade todas as barreiras espácio-temporais. Tanto os capitais viajam leves, e com eles as mercadorias e as pessoas, como se distribuem por geografias dispares as cadeias produtivas. A própria empresa, paradoxalmente resistente até hoje como coletivo produtivo, dá sinais de dissolução em redes de subcontratação e “prestação de serviços” à distância.
A par da distância que parece colapsar num ponto virtual, sem geografia, também o tempo se comprime. Um produto vende-se antes de ter sido fabricado. Nos mercados “de futuros” transaciona-se o que não existe e poderá nunca vir a existir. O futuro é “descontado” para efeito do cálculo financeiro e transportado para o presente sob a forma de “valor atual”. Aqui e agora se fazem e desfazem o que no passado eram compromissos. A experiência da compressão espácio temporal racionalizada por muitos como advento de um novo mundo, se não admirável, pelo menos inevitável, é sofrida pela maioria com ansiedade. Como sempre a expansão da crematística e a correlativa compressão espácio-temporal são resistidas por contramovimentos cuja expressão política é incerta, indefinida e causadora de uma ainda maior ansiedade.

 

Sobre o ciclo:
O conhecimento europeu e português das realidades periféricas é hoje em dia cada vez mais limitado, e frequentemente mediado por um ‘Norte global’ marcado pela hegemonia anglo-saxónica. Acreditamos, contudo, que a tendência de subordinação do nosso pensamento aos modismos globais não deve afastar-nos das tradições do pensamento ibérico e latino-americana. Urge então relembrar que as trajetórias do ‘Sul global’ são determinadas pelas condicionantes da periferia, cujas características são hoje (como antes o eram já) centrais para compreender os problemas do desenvolvimento e do capitalismo ocidental e os desafios das sociedades contemporâneas. Neste propósito, com este ciclo de conferências pretendemos reunir um conjunto de investigadores de referência e que, a partir da área interdisciplinar das ciências sociais e humanas, podem proporcionar-nos uma visão teórica e empírica de problemas centrais da Economia Política contemporânea. Num tempo em que a universidade pública é chamada a se posicionar perante os novos ventos da política, o pensamento e a capacidade de pensar sobre temas estruturantes de nossas sociedades é uma condição indispensável para apreendermos nosso lastro histórico, económico e sociopolítico, identificando os dilemas do mundo ibero-americano e olhando o futuro com consciência e um sentido crítico construtivo. Por fim, apesar de uma secular proximidade entre dois povos irmãos, o português e o brasileiro, acreditamos que há espaço para se aprofundar um diálogo intelectual em temas cujo entendimento é decisivo para uma compreensão necessária da especificidade das sociedades luso-brasileiras, assim como para uma compreensão do nosso devir contemporâneo.

Em cada sessão estará em foco um tema de economia política, que será tratado por dois oradores convidados, um colega da comunidade académica brasileira e um especialista português. Cada conferencista disporá de 40 minutos para a sua palestra, a que se seguirá um debate.

 

ENTRADA LIVRE

 

Organização:

Ana Paula Pires, IHC — NOVA FCSH, Universidade NOVA de Lisboa
Luís Mah Silva, CEsA, Instituto Superior de Economia e Gestão
Maria Eduarda Gonçalves, DINÂMIA’CET-IUL, Instituto Universitário de Lisboa
Maria Fernanda Rollo, IHC — NOVA FCSH, Universidade NOVA de Lisboa
Tiago Brandão, IHC — NOVA FCSH, Universidade NOVA de Lisboa

 

Cartaz do ciclo "Diálogos luso-brasileiros"

Tempo

(Segunda-feira) 5:30 pm - 7:30 pm

Localização

Biblioteca Nacional de Portugal

Campo Grande, 83 — 1749-081 Lisboa

Organizador

Instituto de História Contemporânea — NOVA FCSH, CEsA – Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento do ISEG e DINÂMIA’CET-IUL

X